18 de maio de 2009

A vida é complicada

Acordo. Levanto-me ou fico mais algum tempo na cama?
Não sei. Lembro-me que tenho uma consulta às 9h. Porque me esqueci?
Não sei. Sou despistado. Digo que tenho consulta às 9h. Como vou fazer? Levanto-me ou não?
Fico mais um bocado. E agora? Levanto-me?
Sim. Tomo banho. Visto-me. Espero que me possam levar à consulta. Que faço? Vejo televisão, vou para o computador?
Vou para o computador. Os meus pais estão prontos. Saio. Chego. Toco à porta. A consulta não era às 9h. Era às 10h. Como aconteceu isto? Fui eu que me enganei ou foi o psiquiatra? E agora? Que faço?
Paro para pensar. Dou voltas na rua. Vejo uma esplanada. Sento-me e peço ou peço e sento-me?
Peço primeiro. Sento-me na esplanada. Estudo ou leio?
Leio. Deveria ter estudado?
Não sei. Olho para o relógio. Já devo ir, para chegar a tempo?
Sim. Levanto-me. Caminho. Chego cedo. Deveria ter saído depois ou escolhi bem?
Não sei. Que faço? Como espero?
Fumo. Subo. Bato à porta ou espero mais uns minutos?
Abrem-me a porta. Está resolvido. Tenho consulta. Penso coisas sobre o médico ou não?
Não. Penso coisas sobre ele. Era capaz de evitar?
Não sei. Acabou. Peço uma declaração ou não?
Peço. Saio. Vou caminhando para onde deveria estar. Vou à aula ou não?
Tenho que decidir. É esta a rua que separa os caminhos. O que está certo? O que está certo é o que devo fazer? Vou conseguir estudar?
Não sei. Vou para casa. Caminho. A minha maneira de andar é normal?
Não sei. Caminho. Em que é que as pessoas que passam estão a pensar? Qual é a sua vida? Confrontam-se com as mesmas questões que eu?
Não sei. Porque sou assim?
Não sei. A minha escolha foi livre? Ou estava determinado a escolher assim?
Eu senti nitidamente o livre arbítrio quando pude escolher. Mas eu escolheria sempre da mesma maneira?
Não sei. Se sim, porquê?
Por causa do passado. Sim?
Talvez. Chego a casa. Estou cansado. Escrevo isto ou não escrevo?
Estou a escrever. Acabo isto aqui ou continuo?
Não sei. Continuo. E agora? Acabo?
Não sei!!! Porque é tudo tão complicado?
Não sei. Isto é normal? Estou doido?
Não sei. Acabo.


(Deveria ter acabado? Que faço agora?)

22 de abril de 2009

Morte


Lágrima que não choro,
Riso que não sinto.
Rio que não corre,
Vida que não flui.

É assim a minha vida:
Este tédio,
Esta solidão,
Vontade profunda de morrer.

Por favor,
Leva-me desta vida.
Leva-me!
E não deixes para trás tristeza nem dor.

Pois esse é o meu desejo;
É esse o meu sonho
E o meu fim.

15 de março de 2009

A eterna viagem

Passos brandos ecoam
Nas enseadas da tua existência.
Passos graves de morte
Perseguem cada pensamento teu.

Os sonhos abandonaram a tua realidade,
Que há muito te tinha abandonado.
Perguntas-te quem és, mas não o sabes!

Há demasiados invernos, nus e frios,
Que anseias Primaveras quentes, e contentes,
Porém não apareceram e
Abandonaste, assim, a esperança.

Temes errar na decisão da tua vida,
De não dares tempo suficiente
A ti mesmo para mudar.

Ignoraste esse teu medo,
O murmurar da pequena e eterna esperança.
Optaste por partir para o precipício da vida.

O tempo escapou para o infinito
Durante a tua queda.
Depois parou.
Agora a tua imagem é eterna,
Aquela imagem que te perturbou.

Uma melancólica memória substitui agora
O teu espaço,
O teu tímido olhar amigo,
O teu sorriso pálido.
Os teus sonhos perderam-se na vastidão do espaço.
Assim como os sonhos que pensavas não ter.

A nós, ainda aqui, restam-nos
Lágrimas de saudade e culpa.
Dávamos agora tudo para não partires.
Cobriram-se de morte os nossos pensamentos.

O tempo não dá tréguas, ao contrário da vida.


Sayonarai...Ikiteku koto tsurakunatte ... Dare ka atashi wo tsukete kudasai...

11 de março de 2009

Luz

A luz guia-nos,
permite-nos ver o caminho.

A luz esconde o que lhe está por detrás,
cega-nos e impede-nos de o olhar.

Luz,
tu que nos fazes ver e não ver,
tu que crias a cor e a sombra,
não escondas mais os segredos que encerras,
pois não posso ser feliz assim.

Quem és tu,
que és tão rápida,
bonita e deslumbrante,
mas tão perigosa, tão misteriosa?

Quem sou eu?


Procuro-me constantemente
Mas não me encontro.

Procuro essa pessoa misteriosa,
Esse eu que não se deixa conhecer.

Quem sou eu afinal?

Sou uma pessoa,
Quero crescer e ser feliz,
Quero ter uma família,
Um trabalho,
Uma casa,
Um carro.
Quero ser alguém.

Mas então penso:
Não sou adulto e
Não sou feliz.
Não construí família nem amor.
Não tenho casa, trabalho ou carro.
Será que sou mesmo alguém?

15 de fevereiro de 2009

Vale

A noite cai pesada sobre o vale abandonado,
De vida e de esperança desprovido.
Em ti corre água salgada,
Mais água que seca a terra
Onde outrora nascia vida.

Vale despido, quanta pena de ti tenho!
Tu és eu.
Porque te mato eu assim?

O sol que emanava alegria
É agora sinónimo de inveja.
As borboletas que te adornavam
Repousam, como manto, no chão…!

És um defunto cemitério
De gente descontente.
Onde não se vive
E não se sente.

De sonhos desprovido!
Por cobiça destruído!
Oh, mundo corroído!

7 de fevereiro de 2009

Mimir - O mais sábio

Conhecido como o mais sábio dos deuses AEsir, Mimir era guardião de uma das fontes que brotava das raízes de Yggdrasil, a árvore cósmica com três raízes que correspondem às três dimensões - deuses, homens e mortos - e interligam os nove mundos. Após o armistício entre os deuses Vanir e AEsir, Mimir e Hoenir foram enviados como reféns para os Vanir. Foi o silêncio de Hoenir que enfureceu os Vanir, que se vingaram cortando a cabeça de Mimir.

Com ervas e encantamentos, Odin preservou a sua cabeça e colocou-a na fonte. Por meio dela, buscava orientação e conselhos para as suas decisões e acções. Para adquirir a essência mágica das runas e obter mais sabedoria, Odin sacrificou um dos seus olhos para beber da fonte encantada, guardada pela cabeça de Mimir. Era nesta fonte, repositório da sabedoria e da memória ancestrais, que se encontravam as runas, as verdades desconhecidas aos homens, essência da sabedoria universal. Ao entregar um olho a Mimir, Odin direcciona a sua visão para dois mundos - o real, que enxerga com o outro olho, e o transcendental, no qual penetra com o olho guardado no fundo da fonte.

A fonte de Mimir representa, portanto, o conhecimento, a sabedoria e a magia de todas as épocas, dimensões e universos, fornecendo informações e auxílio àqueles nela vão beber.

Mirella Faur, Mistérios Nórdicos (adaptado)